NECROLOGIA DO VERBO AMAR
Amo -
lançando-se contra moinhos de vento gritava dom Quixote.
Amo –
envenenado de céus gritava Otelo.
Amo –
recostado em Ossian soluçava Werther.
Amo –
tremendo nas carruagens de Jasvin repetia Vronski.
Amo –
separando-se de Grusenka sonhava Dimitri Karamazov.
Amo –
brandindo a espada recitava Cyrano.
Amo –
regressando do comício sussurrava Jacques Thibault.
Amo –
gritaria também o herói de um romance contemporâneo,
mas o autor não lho permite.
Não está na moda.
O amor já não é contemporâneo.
Izet Sarajlic, poeta bósnio, 1930 - 2002.
Trad. de José Luís Peixoto e Juan Vicente Piqueras
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